O mal do século? Entenda como as redes sociais podem afetar sua vida

Não é novidade que o sistema global de rede de computadores, mais comumente chamado de internet, se tornou hegemônico em todo o mundo, ampliando cada vez mais o número de usuários. No ano de 2021, só no Brasil, 81% da população com mais de 10 anos (148 milhões) utilizou internet em sua rotina, fato surpreendente, tendo em vista que menos da metade da população brasileira tinha acesso à rede em 2011 (PESQUISA TIC DOMICÍLIOS, 2021).

As redes sociais digitais crescem então exponencialmente, mas em paralelo ao aumento do acesso à internet, o que pode ser evidenciado no relatório da “We Are Social” de 2019, que aponta que 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo possem cadastro em pelo menos alguma rede social (VIEIRA, 2021). Mas o que esse aumento no uso das redes sociais pode proporcionar para o mundo?

De acordo com Recuero (2009) as redes sociais possuem dois elementos principais: os atores e as conexões. Os atores são os nós da rede, representados pelas pessoas, enquanto as conexões se apresentam como suas interações. Sendo assim, a autora define rede como “[…] uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores” (RECUERO, 2009).

A internet e, consequentemente, as redes sociais parecem proporcionar um aumento na qualidade de vida das pessoas, contribuindo com a comunicação e fornecendo acesso rápido e fácil às ferramentas para o entretenimento, marketing digital, educação, entre vários outros. Entretanto, inquestionavelmente, as redes sociais digitais parecem ser a causa para alguns problemas da sociedade atual, justamente pelo seu caráter prático e estimulante, que favorecem conexões indesejáveis.

O uso de tecnologias tem se tornado algo quase essencial na vida das pessoas, muitas vezes o hábito saudável se torna vício e causa dependência que afeta severamente os mais jovens. Agora, telas permanecem iluminando as madrugadas, trazendo problemas que prejudicam a saúde física e mental.

Em um estudo de revisão de 2019 são compilados expressiva produção científica, presente em revistas de relevante rigor científico, listando os principais problemas relacionados às redes sociais digitais. Com isso, Souza; Cunha (2019) concluem que os assuntos mais citados se relacionam com “Cyberbullying” e a “Depressão”, apesar disso, alguns outros assuntos são tratados, como:

• Perda de concentração e rendimento escolar reduzido;

• Postagens de conteúdo nocivo (postagens narcisistas);

• Desenvolvimento de problemas psicológicos e psiquiátricos, devido isolamento da vida social real;

• Ansiedade, angústia e desconforto com uso excessivo (busca por “likes”), mas também pela impossibilidade do uso;

• Pensamentos suicidas e baixa autoestima;

• Outros.

Vale ressaltar que ainda há outros problemas, que vem afetando os adolescentes que utilizam tecnologias muito jovens, como o sedentarismo e o uso compulsivo de internet, progredindo para dependência emocional. Apesar do amplo quadro, trataremos aqui dos temas mais recorrentes, buscando entender por que as redes sociais digitais podem ser o mal do século.

Cyberbullying

Fonte: FreePik

O cyberbullying é uma adaptação das características do bullying comum para a internet. Com a tendência exponencial de utilização de internet, podemos entendê-lo como um problema emergente que precisa ser enfrentado. Gonçalves (2021), com base em outros autores, considera o cyberbullying como:

“[…] atos de violência e atitudes agressivas, intencionais e repetitivas (Pinheiro, 2007: 12; Olweus, 1991), citado por (Pinheiro, 2009), cujo objetivo pode passar pela humilhação, perseguição, intimidação, agressão, difamação e marginalização de um indivíduo ou grupo. Entende-se ainda que o cyberbullying tem como base a projeção deste mesmo fenómeno (bullying) na cibercultura” (GONÇALVES, 2021).

Neste mesmo trabalho, destaca-se que o agressor e/ou agressores virtuais podem importunar a vítima por tempo indeterminado, uma vez que as postagens, mensagens, vídeos e outros meios possuem uma “pegada digital” que as manterá na rede. Com a possibilidade de anonimato, os “cyberbullys” podem atacar e não sofrer nenhum tipo consequência.

Dessa forma, podemos concluir que o cyberbullying advindo das redes sociais, minam a autoestima das vítimas e provocam problemas mais sérios, como ansiedade, depressão, mutilação e, sem a devida atenção, até mesmo o suicídio. Para diminuir esse problema, é necessário que as partes envolvidas tenham que ser acompanhadas por seus pais, professores e outros.

A solução dada por especialistas passa diretamente pelo diálogo, uma vez que potencializaria um melhor entendimento sobre os motivos pelos quais os jovens estão consumindo conteúdos que possam manter esse tipo de comportamento na internet. Além disso, a limitação do uso das redes e seu monitoramento seriam uma ótima alternativa para evitar esse lado sombrio.

Autoestima e problemas de autoimagem

Fonte: FreePik

Nas mídias sociais, oculta-se frequentemente uma questão que assola a sociedade atual. Atrás de belas fotografias, estão jovens buscando curtidas e mais curtidas compulsivamente, a fim de aderir um maior status social nos “cybers” espaços. Segundo Brunelli e colaboradores (2019) “a imposição por parte das mídias sociais de um padrão de beleza ideal faz com que os usuários desejem atingir aquele determinado ‘status quo’” (BRUNELLI et al, 2019).

Na visão de Vasco (2009) a autoestima é a “[…] capacidade em sentir satisfação consigo mesmo […]” (apud BRUNELLI et al, 2019, p. 5). Sendo assim, entendemos como a baixa autoestima se instala nesse contexto, pois os jovens buscam se adequar ao padrão ideal das redes sociais digitais e, ao tentar se espelhar no que está nas vitrines das redes, acaba-se gerando um sentimento de insatisfação. A fase da adolescência é reconhecidamente uma fase de busca por identidade, envolvendo muitos questionamentos e problemas de autoaceitação e autoimagem, que podem contribuir com desordens psicológicas mais sérias, como bulimia e transtornos ansiosos e depressivos. Como expressa Brunelli:

“A acumulação dos likes representa aceitação, acerto, julgamento público positivo, a falta de likes, ao contrário, representa rejeição, a negação, julgamento negativo, que pode levar a autocondenação ou em casos mais extremos, levando a casos de depressão profunda e seus infelizes desdobramentos” (BRUNELLI et al, 2019).

Transtornos psicológicos

Fonte: FreePik

Os dois primeiros pontos levantados podem ter um papel central no desenrolar de alguns problemas de fundo emocional e psicológico. Assim, os problemas causados pelas redes sociais podem se desdobrar em casos mais sérios como transtornos de ansiedade e depressão, demandando um acompanhamento mais vigilante com detalhes que possam denotar sintomas e comportamentos relacionados à estas duas doenças, a fim de prevenir acontecimentos mais graves.

Vale lembrar que o problema está no agravamento dos sintomas (intensidade), pois assim como o medo, a ansiedade é algo completamente natural, trata-se da “[…] antecipação de ameaça futura” (DSM-5, 2014, p. 233), utilizada nos primórdios para se manter alerta dos perigos ambientais, como predadores (possibilidade de danos à integridade física). As mídias sociais trabalham exatamente no mecanismo de recompensa dos usuários, potencializando o comportamento ansioso.

Cabe lembrar que os transtornos podem ter muitas causas e o uso compulsivo de internet e redes sociais digitais é ao mesmo tempo causa e consequência. O estudo de revisão de Lima; Primo (2021), da conta deste fato. Os autores identificaram que, quanto mais problemas no ambiente de convívio de um determinado adolescente, maiores são as margens para o uso compulsivo de redes sociais, provocando um tipo de ciclo vicioso. Sendo assim, com mais tempo em mídias sociais, maior é susceptibilidade do desenvolvimento de problemas psicológicos mais graves, pois, os jovens podem sofrer com distanciamento social, problemas de autoestima, cyberbullying, entre outros, podendo levar a transtornos de ansiedade e depressão.

Conclusão

Esse texto foi criado para explorar questões relacionados ao risco do uso compulsivo das redes sociais, cabe destacar que existe sim um uso regulado e saudável, que deve ser visto como uma boa forma de entretenimento e socialização. Entretanto, devemos em nosso cotidiano optar pela manutenção de outros hábitos mais saudáveis, tais como a leitura, as atividades físicas, os jogos de tabuleiro, conversas com os amigos, viagens e entre vários outros. Não é justo dizer as redes sociais são grandes vilãs na atual geração, mas devemos trata-las como ferramentas positivas que precisam ser utilizadas de modo mais cuidadoso.

Referências:

Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Pesquisa TIC Domicílios. Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). 2021. Disponível:https://www.cetic.br/pt/publicacao/resumo-executivo-pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2021/. Acesso em: 06 mar. 2023.

VIEIRA, Victor Rodrigues Nascimento. Mas afinal, o que são redes sociais digitais? 2021.Disponível: https://vieiravictor.jusbrasil.com.br/artigos/1108676292/mas-afinal-o-que-sao-redes-sociais-digitais.  Acesso em: 06 mar. 2023.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura) 191 p. Disponível em:http://www.raquelrecuero.com/arquivos/redessociaisnainternetrecuero.pdf. Acesso em: 08 mar. 2023.

NITAHARA, Akemi. Estudo mostra que pandemia intensificou uso das tecnologias digitais. Agência Brasil. 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-11/estudo-mostra-que pandemia-intensificou-uso-das-tecnologias digitais. Acesso em: 06 mar. 2023.

SOUZA, Karlla; DA CUNHA, Mônica Ximenes Carneiro. Impactos do uso das redes sociais virtuais na saúde mental dos adolescentes: uma revisão sistemática da literatura. Revista Educação, Psicologia e Interfaces, v. 3, n. 3, p. 204-2017, 2019.

BATISTA, Jefferson Isaac; DE OLIVEIRA, Alessandro. Efeitos psicofisiológicos do exercício físico em pacientes com transtornos de ansiedade e depressão. Corpoconsciência, p. 1-10, 2015.

SOUSA, Silvana Freitas; GONÇALVES, Bruno. O Cyberbullying nas Redes Sociais: um problema de todos? Revista EducaOnline, v. 15, n. 1, p. 175-191, 2021.

BRUNELLI, Priscila B.; AMARAL, Shirlena CS; SILVA, P. A. I. F. Autoestima alimentada por “likes”: uma análise sobre a influência da indústria cultural na busca pela beleza e o protagonismo da imagem nas redes sociais. Revista Philologus, v. 25, n. 53, p. 226-236, 2019.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=QL4rDAAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 27 mar. 2023.

Fabricio Heleno de Souza Franco

Fabricio Heleno de Souza Franco é estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM). Ele é um membro ativo do Projeto de Extensão "Produção e Recepção de Mídias na Formação de Professores" e possui um profundo interesse nas áreas de evolução, ecologia e genética. Atualmente, próximo de sua conclusão de curso, ele busca se envolver em questões relacionadas à educação.

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