O que fazer pelo planeta?

Fonte: FreePik

Desde seu surgimento na África oriental, há cerca de 200 mil anos, a espécie humana se dispersou por todo o planeta. Com a nossa grande capacidade adaptativa, de pouco em pouco, nós humanos nos tornamos cosmopolitas, passando a habitar toda a Terra. Diante disso, faz-se necessário o cuidado de nossa casa – o planeta Terra – para então continuarmos a viver nela e dela.

Desde a origem, as civilizações humanas começaram a sobreviver em pequenos grupos, separados geograficamente em todo o globo. Os milhares de anos de história geraram hábitos, religiões, línguas e outros aspectos culturais que contribuíram para uma separação para além dos limites geográficos. No entanto, nossa capacidade adaptativa resultou na atual tecnologia, rompendo as barreiras geográficas e culturais que nos limitava antes, como o transporte e a comunicação. 

Atualmente, estamos em um período de globalização, na qual podemos nos comunicar com todo o mundo por meio da internet, ligações telefônicas, cartas e outros. A espécie humana nunca esteve tão perto de uma união, na qual sejamos capazes de considerar e nos sensibilizar com as pessoas de outras cidades, estados, países e continentes.

Todavia, mesmo que sejamos capazes de pensar no coletivo, muitos não o fazem, uma vez que o mundo apresenta um sistema econômico que, majoritariamente, necessita que algumas pessoas estejam “embaixo” para que outras estejam em “cima”. Assim, os recursos do planeta em que vivemos estão desigualmente distribuídos e, em decorrência disso, água, alimento e outros estão fora do alcance de milhões de pessoas.

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De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo enfrentaram fome em 2020, isso é cerca de 10% da população mundial, aproximadamente oito bilhões de pessoas. Atualmente, o mundo cultiva alimento suficiente para suprir 10 bilhões de pessoas (FAO, 2022; FAO, 2021), o que é bem mais do que a população mundial, demonstrando que a má distribuição de recursos e o desperdício são fatores contribuintes para a desigualdade social e a fome mundial.

Mesmo sabendo da condição de fome e insegurança alimentar da população mundial, quase um bilhão de toneladas de alimentos foram desperdiçados em 2019 no mundo (UNEP, 2021). Isso reflete a ignorância das pessoas, pois, mesmo sobras podem ser reutilizadas para compostagens ou outros fins.

O Brasil é um dos países que mais contribui com a produção de alimentos no mundo, que se dá principalmente pelo clima favorável, solo fértil e a biodiversidade que afeta significativamente no aporte de chuvas e nutrientes. A exportação de alimentos produzido pelo agronegócio compõe uma grande parcela na economia do Brasil (DALL’AGNOL; KRZYZANOWSKI, 2021), e o que se produz no Brasil é o suficiente para suprir as demandas internas e ainda exportar. Porém, cerca de 36,7% da população brasileira sofreu com insegurança alimentar, em algum nível, em 2021, o que mostra o descaso das políticas públicas e má gestão dos recursos. Vale dizer que a insegurança alimentar está intimamente relacionada à pobreza, pois cerca de 24,7% da população brasileira foi considerada como pobre no ano de 2019 (IBGE, 2020 apud. MACIEL et al. 2022).

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Outro recurso que tem se tornado limitante e mal distribuído é a água. Só 3% da água do planeta é água doce, sendo que a maioria está congelada ou subterrânea, sobrando menos de 1% disponível em rios e lagos, fontes que muitas vezes se encontram poluídas e inacessíveis para consumo (WWF BRASIL, 2017). Na raiz desse conflito está também a desigualdade do poder econômico. Compreendendo que a água é utilizada para suprir a demanda de várias atividades, como em determinados setores industriais, na agricultura irrigável, pecuária para consumo dos animais, na geração de energia em hidrelétricas, tem sobrado cada vez menos para o consumo direto das pessoas.

Segundo a Eco Nordeste (2020) 27,6% da população nordestina sofre intensamente com a seca e, além disso, 35 milhões dos cerca de 200 milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada (GITEL, 2020). Apesar de investimentos em pesquisas para solução do problema de falta d’água como dessalinização da água dos oceanos, é válido repensar o uso da água doce e sua exploração por diferentes atores, visto que esse recurso é limitado.

O outro problema que afeta significativamente o mundo atual é a energia. Boa parte do que consumimos é proveniente dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. Essa utilização representa malefícios para o planeta, devido ao aumento dos gases do efeito estufa que destroem a camada de ozônio, causando gradualmente as mudanças climáticas que nos afetam. Os governos mundiais planejam o desuso total até 2050 desse tipo de energia, como forma de diminuir os impactos. Até lá, espera-se que a energia limpa e renovável se torne mais barata e mais eficiente.

Pois bem, os recursos naturais são limitados, a energia proveniente de combustíveis fósseis está se exaurindo, as fontes de água doce estão secando e as florestas estão sendo derrubadas. Problemas como desperdício podem e precisam ser evitados, a fim de não contribuirmos para nossa autodestruição. Ainda há muita coisa a ser feita e não há como identificar com clareza a solução para todos os problemas. Mas sabemos que pequenas mudanças individuais podem ser um bom começo para salvarmos o planeta.

Sem querer atribuir a culpa somente ao consumidor de pequena escala, não tem como evitar considerar que todos devemos repensar hábitos. Será que aquele banho quente em um dia de verão é realmente necessário? Ir de carro para a academia a dois km de sua casa é válido? Escovar os dentes com a torneira aberta; acionar a descarga no sanitário constantemente; jogar sobras de comida no lixo; deixar o computador, ventilador, televisão e outros eletrodomésticos ligados enquanto não são utilizados. Várias atividades cotidianas podem ser modificadas para se evitar o desperdício de energia, água e alimento.

Diminuir sua pegada ecológica é essencial para que possamos deixar o meio ambiente equilibrado para a atual e as futuras gerações. A pegada ecológica, em resumo, trata da extensão de território em recursos que são necessários para produzir bens destinados à determinada pessoa; portanto, leva-se em conta todos os recursos naturais utilizados para o consumo humano. Considerando que muitos indivíduos utilizam mais que o necessário, algumas práticas arraigadas na cultura e que passam a ser realizadas por grande parte da população mundial, podem ser insustentáveis para o planeta.

Utilização de energia; espaços para construções, agricultura e pecuária; água potável; quantidade de pescados e a relação com a capacidade dos animais de reprodução e vários outros fatores contribuem para aumentar a pegada ecológica. Sabendo disso, cada indivíduo deve se engajar na compreensão e na luta por leis que regulem o uso dos recursos naturais por grandes consumidores, mas pode também começar a mudança a partir de sua própria casa, adotando novos hábitos, menos danosos para o meio ambiente, evitando desperdícios neste processo e contribuindo para manutenção do planeta.

Fonte: FreePik

Referências:

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. 2012. 1. Ed. Tradução: Janaína Marcoantonio. Porto Alegre: L&PM Editores, 2015.

DALL’AGNOL, Amélio. KRZYZANOWSKI, Francisco Carlos. As exportações do agro brasileiro em tempos de pandemia. 2021. Disponível em: <https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2021/04/27/exportacoes-do-agro-brasileiro-em-tempos-de-pandemia/>. Acesso em:15 de outubro de 2022.

UNEP. 2021. Como o desperdício de alimentos está destruindo o planeta. Disponível em: <https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/como-o-desperdicio-de-alimentos-esta-destruindo-o-planeta>. Acesso em: 15 de outubro de 2022.

ALVES MACIEL, Mitali Daian; TROIAN, Alessandra; VASCONCELOS DE OLIVEIRA, Sibele. Brasil do agro, país da fome: pensando estratégias para o desenvolvimento sustentável. Espacio Abierto. Cuaderno Venezolano de Sociología, v. 31, n. 3, p. 23-41, 2022.

GITEL, Murilo. No Nordeste, 72% da população ainda carece de coleta de esgoto. 2020. Disponível em: <https://agenciaeconordeste.com.br/no-nordeste-72-da-populacao-ainda-carece-de-coleta-de-esgoto/>. Acesso em 15 de outubro de 2022.

World Wildlife Fund (WWF). Dia Mundial da Água: lembrete anual para a vida. 2017. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/pantanal/dia_da_agua/>. Acesso em 15 de outubro de 2022. 

World Wildlife Fund (WWF). Pegada ecológica. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/o_que_compoe_a_pegada/>. Acesso em 15 de outubro de 2022. 

Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Food Outlook: BIANNUAL REPORT ON GLOBAL FOOD MARKETS. 2022. Disponível em: <https://www.fao.org/3/cb9427en/cb9427en.pdf>. Acesso em 10 de outubro de 2022.

Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). The State of Food Security and Nutrition in the World 2021: The world is at a critical juncture. Disponível em: <https://www.fao.org/state-of-food-security-nutrition/2021/en/>. Acesso em 10 de outubro de 2022.

Fabricio Heleno de Souza Franco

Fabricio Heleno de Souza Franco é estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM). Ele é um membro ativo do Projeto de Extensão "Produção e Recepção de Mídias na Formação de Professores" e possui um profundo interesse nas áreas de evolução, ecologia e genética. Atualmente, próximo de sua conclusão de curso, ele busca se envolver em questões relacionadas à educação.

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