Não tem como sermos sustentáveis se formos contra a diversidade!

Você sabia que essa oposição à diversidade e a desigualdade não é algo intrínseco ou natural do ser humano?

É um valor trazido e imposto pelo modo de pensamento patriarcal: masculino e branco. E esse é o mesmo valor imposto contra a natureza, ou seja, a relação de domínio do ser humano sobre a natureza. Isso está impregnado na nossa noção de desenvolvimento (e que o capitalismo reproduz todos os dias). Tudo o que é não hétero e não branco “não presta”!

Como explica Béltran, a economia capitalista estrutura o mundo em pares opostos, como homem-natureza, bom-mau, civilizado-selvagem. Esse pensamento dicotômico (maniqueísta) e reducionista que o Ocidente patriarcal desenvolveu como complemento ideológico e filosófico do poder e do domínio sobre a natureza contaminou o nosso sistema de valores, que passou a caracterizar os “opostos” como um sendo bom e o outro ruim, como as dicotomias complementares: cultura e natureza, ciência e conhecimento tradicional, homem e mulher, o trabalho masculino e o trabalho feminino.

A violência e a opressão contra a natureza parecem inerente ao modelo de desenvolvimento dominante, assim como a natureza é selvagem e precisa ser trabalhada e desenvolvida, domada, o emprego da violência contra as mulheres esconde a necessidade de controle e doma, uma vez que as mulheres precisam ser transformadas em mães ou algo produtivo pela ação redentora do casamento. O que acontece é que a ordem cultural-simbólica presente – o patriarcado – e a ordem econômica – o capitalismo – invisibilizam, desprezam, violentam e se apropriam do trabalho de cuidado da vida humana com a superexploração dos corpos e das mulheres, além de levar a natureza aos limites da desapropriação, mesmo que a natureza constitua a base fundamental para o bem-estar e a sustentabilidade da vida no planeta¹.

Isso ocorre, pois a constituição do pensamento em dicotomias não nos possibilita enxergar que os opostos, na verdade, são partes complementares um do outro. E, que entre esses “opostos” existem uma série de intermediários possíveis. Por isso que esse pensamento dicotômico e segregacionista não nos possibilita sermos e valorizarmos a diversidade!

A diversidade, então, surge como um antagonista a esse pensamento patriarcal e capitalista. Para valorizarmos a diversidade não podemos pensar que exista sempre e apenas um lado bom e o outro ruim. Saímos do paradigma maniqueísta e linear e começamos a pensar em sistemas. Enfim, existem diversos lados e todos eles possuem as suas particularidades que agregam ao todo! Como diz o cantor e compositor Emicida: “Tudo o que nós tem é nois”.

Contudo, como explica Béltran: Parte dessa armadilha (da dicotomia imposta pelo patriarcado e capitalismo) reside no fato de que essa fórmula jamais incorporou o “nós”, o vínculo entre gêneros, as interdependências, o vínculo humano com a natureza, nem se preocupou em questionar a opressão contra as mulheres como base estrutural. Com isso, a natureza e o ser humano ficaram separados, como entidades isoladas, e a apropriação se impôs como modelo dominante. Transformar só é possível quando se inclui o próprio corpo, criando uma nova epistemologia e uma nova ética da natureza, que nos permitam recuperar o sentido profundo de pertencimento, de empatia, necessário para criar e recriar vida, riqueza, relações, humanidade, conhecimento e cultura.

¹ BÉLTRAN, E. P. Cap 4.: Ecofeminismo. Alternativas Sistêmicas: Bem Viver, decrescimento, comuns, ecofeminismo, direitos da Mãe Terra e desglobalização/organização de Pablo Solón. Tradução de João Peres – São Paulo: Elefante, 2019. Pag 224. ISBN: 978-85-93115-24-0.

Natalie Camargo

Natalie Camargo Prates possui graduação em Ciências Biológicas-Bacharelado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2020) no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM/Macaé). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Praias, Conflito ambiental, Conselho de meio ambiente, Participação social, Justiça ambiental e Conservação de praias. É integrante do Grupo de Pesquisa Estudos Socioambientais e Ecologia Política (GESEP), e do Grupo de Estudos em Educação, Mediações e Tecnologias (GEEMT) na Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé. Também é microempreendedora individual, co-fundadora e gerente da marca Rookz.

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