A importância da Flora do Parque Natural Municipal Atalaia: ainda há muito a se descobrir

A Mata Atlântica é considerada o segundo maior Bioma do nosso país, mesmo após as perdas significativas de área ao longo dos anos. Estudos atuais estimam que exista entre 11 a 28% de cobertura vegetal remanescente de sua totalidade. Totalidade esta, que abrangia toda a costa brasileira, e hoje resume-se em uma paisagem extremamente fragmentada, reduzida a manchas disjuntas, localizadas em topografias acidentadas (inadequada às atividades agrícolas) e também em Unidades de Conservação.

Uma das principais características do Bioma Mata Atlântica são suas variações florísticas. Estas variações devem-se à complexa heterogeneidade da área de distribuição do bioma e dos remanescentes deste. No Município de Macaé, região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, pode-se observar claramente todo um gradiente que representa bem o bioma em sua porção central, abrangendo desde fitofisionomias florestais como Floresta Ombrófila Densa (nas regiões serranas), Floresta Estacional Semidecidual (nas baixadas) à restingas e mangues (no litoral). As particularidades fisionômicas fazem da Flora do município um local propenso às novas descobertas científicas. Não existe em outro lugar tal tenuidade entre fitofisionomias, logo, não se sabe como isto pode influenciar na composição florística desta área. Esforços para a descrição da biodiversidade destes remanescentes geram dados sobre as condições únicas relacionadas às características que tangem o município. Mesmo com a devida importância ecológica, no entanto, o município possui muitas lacunas relacionadas à descrição da Biodiversidade vegetal.

Recentemente, visando contribuir acerca de tais conhecimentos, defendi minha dissertação de Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais: “Florística e Fitossociologia do Parque Natural Municipal Atalaia, Macaé, RJ”, produzindo a primeira listagem florística do componente arbóreo da UC.

O Parque Natural Municipal Atalaia (PNMA) encontra-se entre o início da serra macaense e as regiões de baixada do município. De acordo com as legislações e bibliografias especializadas, a vegetação se caracteriza como Floresta Ombrófila Densa, mas possui proximidade geográfica com as florestas classificadas como Estacionais Semideciduais. Historicamente, o fragmento florestal a qual se insere o PNMA, pode ser considerado refúgio de uma condição semioriginal de Mata Atlântica, devido a este fragmento florestal ser a primeira área a ser protegida integralmente no município.

Os estudos relacionados à Florística e Fitossociologia são fundamentais e primários para descrição da biodiversidade florestal, tanto na elaboração de uma lista com as espécies presentes no local (listagem florística), quanto para o entendimento de como as espécies colaboram para criar tal cenário de tamanha diversidade vegetal. Estes estudos são condições essenciais para a conservação e preservação de ambientes florestais.

A listagem florística produzida indicou quão diversa e abundante foi a amostragem realizada. Foram amostrados 724 arvores em 1 hectare de área (100/100m), divididos em 194 espécies diferentes, um dos maiores índices de diversidade quando comparados aos trabalhos realizados no município e adjacências da região Norte Fluminense. Dessa totalidade de espécies, aproximadamente 45% está sob algum grau de ameaça de extinção, de acordo com as principais listagens mundiais e brasileiras. Pode-se citar Virola bicuhyba (bicuíba), Ocotea odorifera (canela-sassafrás), Melanoxylon brauna (braúna), Dalbergia nigra (Jacarandá-da-Bahia) e Euterpe edulis (palmito-juçara), além das espécies Micropholis compta e Faramea includens, ambas de rara ocorrência no Estado do Rio de Janeiro. Além das espécies citadas, outras 107 (que correspondem à cerca de 55% de toda amostragem) também são consideradas raras. Os valores médios de espécies raras para Mata Atlântica do Rio de Janeiro oscilam entre 9,5 e 45,2%, estando a área do PNMA acima da média geral.

De acordo com a riqueza de espécies, a listagem das espécies mais importantes do estudo, a característica ecológica, tanto destas espécies quanto do ambiente físico, juntamente com o resultado do índice de diversidade e legislações específicas, pode-se afirmar que o Parque Atalaia se encontra em um estágio médio a avançado de sucessão ecológica e regeneração natural. Ou seja, considerando o histórico de perturbações antrópicas sofridas por este fragmento ao longo dos anos (desde retirada total da vegetação para plantações de monoculturas à corte seletivo de árvores com valores econômicos) e também as pressões atuais no entorno (matrizes agropecuárias) se observa que a efetiva proteção dessa área como Unidade de Conservação vem demonstrando características promissoras de preservação e conservação da flora.

Cabe por fim destacar que a área sob regime de proteção pelo Parque Atalaia ocupa apenas uma parte de um dos principais fragmentos florestais íntegros do município. Visto tamanha riqueza amostrada, a abundância de espécies raras e, que a amostragem mesmo que significativa, não abrangeu todos os limites do PNMA, são necessários ainda mais esforços que subsidiem a preservação deste relicto de Mata Atlântica. Os resultados encontrados servem de incentivo à novas pesquisas científicas com objetivo de caracterizar e descrever a riqueza e estruturação da Floresta, além de já demonstrar que a efetiva proteção integral não deve restringir-se somente aos limites da Unidade de Conservação, mas sim, a todo o fragmento florestal a qual está inserida. Logo, ações para a expansão dos limites do PNMA e caracterização da Biodiversidade são urgentes e imprescindíveis.

Vegetação do Parque Natural Municipal Atalaia em fase avançada de sucessão ecológica e regeneração natural.
Foto: Nathálya Vasconcelos

Sobre a autora:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *