A paisagem ecológica de Macaé

O município de Macaé é uma das poucas regiões do planeta Terra que possui em seu território uma diversidade tão expressiva de ecossistemas, que vão desde montanhas, florestas, cachoeiras, rios, restingas, lagoas interiores e costeiras, brejos, estuário, manguezal, praias arenosas, costões rochosos, ilhas costeiras e formações recifais. Desde os primeiros estudos do geógrafo e geólogo Alberto Ribeiro Lamego, na década de 40, ficou evidente que a cidade de Macaé apresenta condições geológicas sui generis. Porém, associado a essa gama de ecossistemas interligando a serra ao mar há a descoberta de campos de petróleo e gás, tornando o município a base operacional das atividades de petróleo na Bacia de Campos, e impulsionando consideráveis taxas de crescimento socioeconômico. Esse cenário gera um desafio a população e governantes, de proporcionar o desenvolvimento sustentável, ou seja, impulsionar, em longo prazo, o desenvolvimento socioeconômico, atrelado a preservação de todos esses ecossistemas, proporcionando qualidade de vida e felicidade as gerações futuras de macaenses.

A história geológica da região começa com a formação do planeta Terra visto que as rochas metamórficas que vemos na serra macaense possui idade superior a 1,8 bilhão de anos. Com a criação (abertura) do oceano Atlântico, a 175 milhões de anos, houve o levantamento (soerguimento) da Serra do Mar e a formação da planície costeira que se estende até o mar, além das ilhas próximas ao litoral. Ao longo desse trecho entre a serra e o mar, as chuvas contribuíram para a formação dos rios, que descem a serra e ao chegarem à planície costeira encontram o mar, e alagam essa extensa região, formando brejos, lagoas e enchendo o lençol freático da região. Com o aumento e diminuição do nível do mar (progressão e transgressão) nos últimos 10 mil anos podemos observar a formação dos estuários e das lagoas costeiras. Nessa região podemos observar a colonização da Mata Atlântica, das áreas de restinga e manguezais, onde se estabeleceu uma das maiores biodiversidades do planeta.

Foi nessa paisagem onde, atualmente, se encontra o município de Macaé. Primeiramente, a região foi ocupada por tribos indígenas que se distribuíam, principalmente, na região costeira, usufruindo de importantes recursos biológicos e pesqueiros do Rio Macaé e do seu estuário (foz), e das lagoas costeiras da região. Posteriormente, com a colonização portuguesa, além da região costeira, se inicia a ocupação da região interior, incluindo os morros e a região ao longo da planície fluvial e costeira no domínio da Mata Atlântica, chegando até a região serrana. A partir da colonização recente, a cidade de Macaé se expande ao longo do estuário do Rio Macaé, onde está localizado o centro do município e o bairro da Barra de Macaé. Ao redor de planícies alagadiças, mangues, pântanos e restingas, elevações de morrotes estão “soldados” ao continente pelo material argiloso ou arenoso, formado no embate entre as forças do rio e do mar, destacando-se os bairros da Imbetiba, Cajueiro, praia do Forte, Cancela Preta e Praia dos Cavaleiros, que se apresentam em uma falésia fóssil de uma época em que o mar imprimia outro contorno ao litoral. Ao norte do rio Macaé, os morrotes se afastam da linha costeira, a faixa de areia de restinga se torna cada vez mais extensa, forjando às planícies onde estão bairros como Aeroporto, Barreto e Lagomar, e a restinga de Jurubatiba.

O limite territorial costeiro do Município ainda abrange duas pequenas bacias hidrográficas: ao norte, a pequena bacia do rio Cabiúnas, que desagua em uma pequena baia represada pelo atual cômodo da praia do Lagomar, formando a belíssima lagoa de Jurubatiba; e ao sul, pela bacia do rio Imboassica, que pelo mesmo processo de represamento pelo cômodo da praia do pecado forma a lagoa de Imboacica, um dos cartões postais da cidade.

Além da linha costeira, uma série de rochedos ornamenta toda a costa, marcando a ocorrência de antigos morrotes que foram erodidos pela ação do mar até a exposição de sua matriz rochosa. Assim também é a área da desembocadura do Macaé que apresenta uma série de lajes rochosas em meio a um assoalho formado de sedimentos trazidos pelo rio Macaé, em uma cota que não ultrapassa 30 metros de profundidade, até o arquipélago de Santana. As rochas abrigam o delta do rio Macaé, e oferecem dificuldades aos navegadores que conhecem a região desde os primeiros anos do Brasil colônia. O delta do rio Macaé ainda fica abrigado por três imponentes ilhas: Santana, Frances e Ilhote Sul; morros que emergem a uma distância de até 7,0 km da costa e que são rodeados por uma infinidade de formações rochosas submersas (lajes) que criam recifes de corais únicos, riquíssimos em diversidade marinha.

A partir do mar até a serra, a ação das monções de ar úmido de origem oceânica, encontram o interior do continente determinando o regime de chuvas com características orográficas, o que determina o clima tropical semi-úmido (Aw), influenciando a distribuição da vegetação. Assim, apesar de estar na área de um único Bioma, a Mata Atlântica, Macaé está sobre a influência de duas regiões fitoecológicas em seu trecho mais baixo e litorâneo: a Floresta Ombrófila Densa e a Floresta Estacional Semidecidual, enquanto em sua maior extensão, com ampla variação de altitude, a Floresta Ombrofila Densa (FOD) reflete as variações da topografia, apresentando as subdivisões de Terras Baixas (altitude entre 5,0 a 50 m), Submontana (altitude entre 50 e 500 m) e Montana (Figura 1).

Cabe ressaltar que os recentes esforços para a compreensão de padrões de diversidade florestal e conservação do bioma Mata Atlântica, por meio do mapeamento de ocorrência de espécies endêmicas associadas, o bioma foi dividido em três domínios atlânticos ou corredores de biodiversidade: Corredor da Serra do Mar, Corredor Central e Corredor do Nordeste, estando a região de Macaé e do Norte-Fluminense na zona limítrofe entre o Corredor da Serra do Mar e o Central, portanto abrigando elementos florísticos de ambos. Todos os fatores acima apresentados, colocam Macaé numa situação muito privilegiada que justifica os resultados de diversos estudos florísticos que evidenciam uma alta riqueza de espécies animais e vegetais já registradas e/ou ainda em fase de descobrimento na região.

Figura – Distribuição das fisionomias florestais de Mata Atlântica na região de Macaé, RJ.

Rodrigo Lemes

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (1999), mestrado em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (2002) e doutorado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). É professor do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2009. Atua na área de Desenvolvimento Sócioambiental e Ecologia Evolutiva, com experiência em gestão de projetos de caráter interdisciplinar. É representante do NUPEM no Conselho Consultivo do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (CONPARNA).

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