O peso do leite materno

Mariana Teixeira P. Pinheiro e Raphaela Gomes Brasil Antunes

Sabemos que existem muitos desafios em relação à amamentação, seja pela conciliação com a rotina de trabalho, pela dificuldade na produção de leite, pelos machucados que podem surgir no bico do peito ou até mesmo pela censura da amamentação em público. Todavia, a Organização Mundial da Saúde recomenda alimentar a criança exclusivamente com o leite materno até os 6 meses de vida e, acompanhada de outros alimentos até  os dois anos ou mais. Essa recomendação se dá por oferecer inúmeros benefícios para o bebê e para a própria mãe. É sobre isso que nós vamos discutir com você nesse texto. 

De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 60% da população acima dos 18 anos apresentam excesso de peso. No Brasil, 60% das crianças não são amamentadas somente com o leite materno até os 6 meses de vida. Para nós, é realmente difícil conseguir relacionar esses dois dados, mas eles estão diretamente ligados, e isso fica mais fácil de compreender quando começamos a entender as complicações que podem ser causadas pelo desmame precoce.

Para melhor entender o texto, é muito importante que saibamos o significado de uma palavra: a amamentação. De acordo com o dicionário, amamentar significa “alimentar ao seio, dar de mamar, aleitar”. Dessa forma, a amamentação é alimentar o bebê com o leite materno. Portanto, o desmame é quando o leite materno para de fazer parte da alimentação do bebê e sua nutrição começa a ser obtida através de outros tipos de alimento.

Antes de começar a falar sobre os fatores que tornam a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida importante, vamos falar  sobre alguns dos seus benefícios. Para o bebê, a amamentação promove a prevenção de infecções gastrointestinais, respiratórias e urinárias. Além disso, ela também protege contra possíveis alergias, ajuda a evitar a síndrome da morte súbita, evita o aparecimento de problemas ortodônticos e faciais, estimula o desenvolvimento cognitivo e intelectual, ou seja, o desenvolvimento da criatividade e do raciocínio lógico. O aleitamento também diminui as chances de obesidade. Estudos mostram que mulheres que foram amamentadas exclusivamente até os 6 meses de vida tiveram menos chance de desenvolver câncer de mama na idade adulta.

Imagem 1: Benefícios que o aleitamento materno como fonte nutricional exclusiva para o bebê.

E para saber como é possível obter todos os benefícios e evitar os problemas relacionados ao desmame antes do tempo, é muito importante entender como o organismo funciona para dar essas respostas para a gente. 

FUNCIONAMENTO DO CORPO EM RELAÇÃO A AMAMENTAÇÃO 

O aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida do bebê pode reduzir em até 25% o risco de obesidade na fase adulta. E não é só isso, a amamentação é como um caminho de comunicação entre o sistema imunológico da mãe e do bebê. Nesse caso, a mãe consegue passar células do sistema imune que ajudam a formar o próprio sistema da criança  e que vão evitar o surgimento de algumas doenças.

Além disso, sabe-se que leite materno é rico em colesterol e, ao passar essa substância para o bebê, o seu organismo entende que não é preciso produzir muito dessa substância, já que ela já está disponível em seu corpo. Ou seja, a criança que é amamentada corretamente, tem a produção de colesterol diminuída. Isso pode não acontecer quando se insere as fórmulas infantis, já que a quantidade de colesterol oferecida por esses suplementos pode ser maior ou menor do que o necessário. 

  Voltando à pergunta inicial, sobre a importância da amamentação para a manutenção do peso da criança, sabe-se que o nosso organismo produz duas substâncias que ajudam a regular o apetite e a manutenção do peso, conhecidas como leptina e insulina. 

 Desmamar o filho antes do período indicado, como já foi falado, pode trazer diversas consequências à saúde do bebê na vida adulta. Aqui vamos tentar explicar porque isto ocorre. O desmame precoce pode levar à desregulação da liberação  da leptina e insulina. Esses hormônios são muito importantes para o equilíbrio do peso e sensação de fome e saciedade porque regulam substâncias cerebrais responsáveis pela manutenção do apetite. Assim, essas desregulações podem levar à obesidade e a muitas outras doenças graves, como a diabetes tipo 2. 

Quando se introduz as fórmulas industrializadas, não se sabe ao certo a quantidade exata de nutrientes que estão sendo ingeridos. Isso faz com que possa ocorrer um aumento do consumo calórico e o desenvolvimento das células que armazenam gordura. Além disso, antes dos seis meses de vida do bebê, seu sistema digestório ainda não está totalmente formado, não conseguindo, dessa forma, digerir moléculas diferentes daquelas presentes no leite materno.

Apesar das doenças não transmissíveis, como a obesidade, serem expressas essencialmente na vida adulta, a sua predisposição é influenciada por alterações lá no início da vida, quando somos desmamados antes do tempo indicado, por exemplo. Ainda,  ter o cuidado ao escolher os alimentos que vão compor a dieta da gestante e da lactante (uma vez que a dieta da mãe vai interferir na produção do seu leite materno), já vai ser extremamente importante para indicar como vai ser o futuro da criança, ou seja, se ela vai ter uma tendência a ser saudável ou não. 

Na imagem a seguir, conseguimos ver um breve resumo da importância da amamentação, desde as substâncias que são passadas pelo leite, até a forma em que elas vão influenciar no desenvolvimento e formação do organismo do neném.

Imagem 2 : Breve resumo da importância do aleitamento materno para o desenvolvimento do sistema imunológico do bebê e como isso pode evitar futuras doenças na vida adulta.
Ilustrações de shutterstock images

No presente texto apresentamos um pouco sobre a importância da amamentação, principalmente para o bebê, e como ela pode influenciar no funcionamento do seu organismo e prevenir doenças futuras. Porém, o aleitamento materno vai além do bebê, a mãe tem um papel essencial nesse processo, obtendo também diversos benefícios para a própria saúde. Portanto, agosto sendo o mês dourado, ou seja, o mês da conscientização acerca da importância da amamentação, abordaremos em um próximo texto um pouco sobre esse protagonismo da mãe, mostrando as vantagens do aleitamento materno para elas e algumas recomendações para que essa etapa tão importante ocorra da melhor forma possível.

Nos encontramos então na próxima matéria com mais informações. Caso tenha alguma dúvida ou comentário sobre sua experiência com esse assunto, não deixe de compartilhar com a gente na nossa página do instagram: @pro.rec_. Até a próxima. 

 Referências:

ALVES, Elaine Aparecida; Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências; Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências; 2010.

ROLDÃO, Carolina Fidalgo da Cruz; Leite materno e programação metabólica: benefícios para a saúde a curto e a longo prazo; 2019; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; ICBAS – Dissertação. Disponível em:  https://hdl.handle.net/10216/121296

SETUBAL, José Luiz; Benefícios da amamentação para mãe; 2011; São Paulo; Universidade de São Paulo.

SOUZA, Beatriz Santos, Mariana Prado Molero, and Raquel Gonçalves. “Alimentação complementar e obesidade infantil.” Revista Multidisciplinar da Saúde 3.2 (2021): 1-15.

TOMA, Tereza & Rea, Marina. (2008). [Benefits of breastfeeding for maternal and child health: an essay on the scientific evidence]. Cadernos de saúde pública / Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública. 24 Suppl 2. S235-46. 

Américo Pastor

Professor Adjunto do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou estágio pós-doutoral em Ensino de Saúde (EEAAC-UFF) e Cognição Social (UCP). Possui doutorado e mestrado em Educação em Ciências e Saúde pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES-UFRJ), bacharelado em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis e bacharelado em Desenho Industrial (Design - Programação Visual) (UFRJ). Desenvolve pesquisas sobre aprendizagens mediadas por tecnologias, linguagens e audiovisuais nos espaços formais e não formais de educação em ciências e saúde.

Um comentário em “O peso do leite materno

  • 27 de agosto de 2021 em 18:28
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    Excelente texto! Extremamente didático e esclarecedor

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