Que neura é essa? Viajando pela neura do Sistema Nervoso (e a farsa do “neuro”)

Isabelle Damasceno

A viagem vai ser longa, que tal começar do início? 🤓 

Você provavelmente já ouviu alguma dessas expressões: “Fulana é neurótica”; “Para de neurose!” Como podemos perceber, ambas expressões começam com o radical neuro. Isso porque são palavras que fazem referência a alguns comportamentos originários do nosso sistema nervoso, que é composto principalmente por células que recebem o nome de neurônios.  Mas o que seriam neurônios? Os neurônios são células com um formato e funcionamento super diferenciado. Até porque, pra dar conta das nossas neuroses, esses tais neurônios precisam ser diferentões mesmo😅. Essas células formam o nosso Sistema Nervoso, e como aprendemos na escola, as células são a menor unidade dos seres vivos. Você se lembra disso? O corpo humano é constituído por aproximadamente 10 trilhões de células (é célula pra caramba 😱). Dentre essas muitas células, 86 bilhões são neurônios, que juntos formam o nosso encéfalo. O encéfalo (🧠) está dentro da nossa cabeça e é formado pelas seguintes estruturas: cérebro, tronco encefálico e cerebelo.  

O nosso queridinho encéfalo (🧠) tem como principal função receber e processar informações sensoriais. Essas informações podem vir de dentro ou de fora do nosso corpo. Por exemplo, sabe aquela sensação de estar supersatisfeito após comer um pratão da sua comida favorita? Ou o frio na barriga que você sente quando vê o crush vindo na sua direção? Então, é graças aos 86 bilhões de neurônios do encéfalo (🧠) que você é capaz de processar essas sensações!  

Também é graças a esses muitos neurônios que nós somos capazes de emitir e compreender uma mensagem, como uma fala ou até mesmo a leitura deste texto. A cada instante, milhares de conexões (sinapses) se formam dentro do nosso Sistema Nervoso. Sabe aquela história de que o coração é o responsável pelo amor? Pode esquecer meu bem, é o sistema nervoso que fica sobrecarregado com nossas paixonites (💓⏩🧠, sorte do coração rs). Mas calma, nós já vamos detalhar todas essas informações. Ok?! Por hora, podemos dizer que o Sistema Nervoso é divido em 2 partes. Essas duas partes são o Sistema nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico. Apesar de desempenharem funções diferentes, eles estão intimamente ligados e se comunicam o tempo inteiro! Maaasss… hoje nós vamos focar apenas em algumas informações sobre o Sistema Nervoso Central. Tá bem?  

Sabe uma outra coisa superlegal sobre o Sistema Nervoso Central? Ele está localizado dentro do nosso crânio e da nossa coluna vertebral. Dentro do crânio encontramos nosso encéfalo (🧠). Ele é formado pelo cérebro, tronco encefálico e cerebelo, como a gente já conversou lá em cima. ⚠️Já que tocamos neste assunto novamente, se liga aqui… quando usamos a expressão cérebro estamos nos referindo a um órgão do encéfalo e não a tudo que está dentro da nossa cabeça. Cuidado para não confundir 😉! Já dentro da coluna vertebral nós encontramos a medula espinal. Ué, mas não era medula espinhal? Sim, sim… antigamente chamávamos de medula espinhal, mas hoje essa expressão se tornou desatualizada e foi substituída por medula espinal. Ufa 😌! Agora sabemos que o nosso Sistema Nervoso Central é formado pelo encéfalo e medula espinal.  

Figura 1.  Representação de uma rede de conexões neuronais. Fonte: Shutterstock 

Bem, em algum momento da sua vida você já deve ter escutado ou até falado alguma das seguintes expressões: “Tá nervoso? Vai pescar” “Cuidado com os nervos!!!!” “Toma um chá pra acalmar” e talvez agora você esteja associando essas expressões ao Sistema Nervoso Central. Pois é, ele está mais presente no nosso dia a dia do que pensamos. Tudo que somos capazes de fazer é graças ao processamento de estímulos que são recebidos e emitidos pelos neurônios do Sistema Nervoso. Isso se dá por meio de um enoooorme emaranhado de neurônios conectados uns aos outros. Na figura 1 você pode ver uma pequena parte deste emaranhado.  

Ah! E esse emaranhado é mais enrolado do que seus fones de ouvido 😅. É uma bagunça que só não é mesmo? Mas é uma bagunça organizada. Isso mesmo! São enrolados assim, mas todos os neurônios se comunicam. Como isso? Foca nas próximas linhas!!!! 

Se liga na sinopse dos neurônios, ops… sinapse 🤗 

Finalmente chegamos nas sinapses, depois de toda a nossa conversa sobre as nossas principais células de percepção, nossos queridinhos neurônios. Vamos papear um pouquinho sobre como os neurônios se comunicam 😊. Bilhões deles estão distribuídos em todo o nosso corpo interpretando 1001 sensações, sejam elas de tato, temperatura, dor e muitas outras. Além de serem também os responsáveis por interpretarmos as cores, formas, odores e os diferentes sabores.  

Tudo isso pode até parecer um pouco complexo, mas é muito simples. Vamos lá! Os neurônios se comunicam para gerar as sensações e respostas a elas. Essa comunicação sucedeu ao longo dos bilhões de anos da evolução da vida no planeta Terra. Ah, os animais também têm neurônios, ok?! Essas células mágicas não são exclusivas dos humanos. Voltando… ao longo do percurso da evolução, a capacidade de comunicação (sinapse) dos neurônios variou com o passar do tempo, se tronando cada vez mais complexa. Hoje, estimamos que um único neurônio humano possa fazer mais de 10.000 sinapses.  

Atualmente nós também sabemos que existem neurônios com diferentes formatos e que eles são capazes de enviar mensagens para centenas de outros neurônios de uma só vez. Mas, de uma forma geral, os neurônios são formados pelas seguintes estruturas:  um corpo celular – que é onde podemos encontrar o núcleo e outras organelas celulares; diversos dendritos – que são prolongamentos por onde os neurônios captam as informações recebidas de outros neurônios e um axônio – que é um prolongamento por onde os neurônios emitem os impulsos elétricos (yes, tem eletricidade na história⚡). Alguns neurônios ainda podem ter uma bainha de mielina, um envoltório gorduroso que fica ao redor dos axônios, os protegendo e permitindo uma condução mais rápida e precisa do impulso elétrico. Veja na figura 2 um esquema que ilustra essas estruturas neuronais. 

Figura 2. Estrutura básica de um neurônio. Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/neuronios.htm 

Mas bem, como acontece essa tal de sinapse? Antes de conversar sobre como ela acontece, precisamos defini-la! A sinapse (figura 3) é uma região de proximidade entre um neurônio e outro, por onde é transmitido o impulso nervoso. E o Impulso nervoso é uma corrente elétrica que percorre o axônio com o objetivo de transmitir uma informação. Essa informação é liberada em forma de mensagem, que é captada pelo neurônio seguinte. Qual é então o objetivo da sinapse? A comunicação neuronal!  

Figura 3. Sinapse. Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/tipos-de-sinapses-comunicacao-neuronal/ 

Cuidado pra não cair na farsa do neuro!  

Lembra que comentamos sobre as palavras que possuem neura/neuro como um radical? Não é à toa! Quando estudamos português, aprendemos que radical é uma parte da palavra que não se modifica ou que sofre uma pequena variação. Neste caso, o radical neuro está relacionado ao significado literal dessas palavras. Isso porque essas palavras expressam alguma relação com o funcionamento do sistema nervoso central e dos neurônios

Neste contexto, gostaríamos de finalizar nossa conversa deixando uma reflexão muito necessária nos tempos atuais! No mercado de trabalho, encontramos muitos profissionais especializados a diagnosticar, acompanhar e propor tratamentos para alterações do Sistema Nervoso. Dentre estes profissionais, destacamos: Neurologistas – médicos especializados em diagnóstico e tratamento de doenças relacionadas as sistema nervoso; Neurocirurgiões – médicos especializados em fazer cirurgias no sistema nervoso; Neurocientistas – cientistas que realizam pesquisas sobre o Sistema Nervo, e outros. 

Você deve ter percebido que todas essas especialidades estão de alguma forma relacionadas ao sistema nervoso e também que, todas elas, possuem o radical neuro formando as palavras. Todas as profissões citadas são regulamentadas. O que gostaríamos de chamar atenção aqui é que, atualmente, tem surgido diversas profissões não regulamentadas que utilizam o radical neuro para obter credibilidade. Acompanhamos nos últimos anos, por exemplo, a super popularização dos coachings. Dentro do mercado dos coachings encontramos os neurocoachings. Inclusive neurocoachings de emagrecimento, de neurolinguística e até coaching de neuroperformance. Mas sabemos que os coachings estão agrupados em uma profissão não regulamentada! Então, amigo, fica ligado que nem tudo que tem o radical neuro faz jus a esta credibilidade 😉! 

Américo Pastor

Professor Adjunto do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou estágio pós-doutoral em Ensino de Saúde (EEAAC-UFF) e Cognição Social (UCP). Possui doutorado e mestrado em Educação em Ciências e Saúde pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES-UFRJ), bacharelado em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis e bacharelado em Desenho Industrial (Design - Programação Visual) (UFRJ). Desenvolve pesquisas sobre aprendizagens mediadas por tecnologias, linguagens e audiovisuais nos espaços formais e não formais de educação em ciências e saúde.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *